A pressão de produtores rurais da União Europeia (UE) contra o acordo do bloco com o Mercosul, firmado hoje (6/12) no Uruguai, não deve impedir que as próximas etapas da negociação sigam. A avaliação é de Sueme Mori, diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). "Como temos mais etapas com votações, essas manifestações vão continuar, (mas) não acho que vá diminuir (o acordo)", afirma a executiva.
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No entanto, ela avalia que é preciso garantir que medidas unilaterais protecionistas não prejudiquem o que foi negociado ao longo de 25 anos.
Segundo ela, a CNA foi favorável ao acordo entre os dois blocos desde o início, uma vez que a rede de relações bilaterais do Brasil ainda é limitada e precisa avançar. O resultado final do acordo UE-Mercosul também foi considerado positivo pela entidade.
"O que gerou preocupação à CNA foi a quantidade de medidas unilaterais que começaram a surgir da UE, no âmbito do green deal, com potencial de prejudicar as importações, como a EUDR contra o desmatamento", diz.
Então, a entidade pediu ao governo brasileiro que fosse incluído um reequilíbrio de concessões na versão final do acordo, e o pedido foi acatado.
"O que a gente pediu foi que houvesse um mecanismo de concessões. Significa que se essas medidas do bloco europeu, como a lei antidesmatamento, afetarem algum país fornecedor, a gente volta para a mesa e revê algo que melhore o acesso daquele que foi impactado", explica.
Entre os países do Mercosul, o Brasil deve ser o principal beneficiário do acordo firmado junto à União Europeia. Além da melhora no acesso e queda nas tarifas, o país tem espaço para preencher partes significativas das cotas de importação com seus produtos.
"Quando falamos em livre comércio, estamos falando em preço, tarifas e requisitos sanitários. Acho que em todos os setores do Brasil onde baixaram as tarifas, mesmo com cotas, como carne ou arroz, milho, frutas, café solúvel, todos eles terão melhora no acesso à UE", observa.
A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) comentou que o acordo também é positivo para a imagem dos produtos e serviços brasileiros na visão de outros mercados além do europeu.
"A importância do anúncio de hoje nesse primeiro momento, é mais política do que econômica. Quem faz uma aliança com a União Europeia pode fazer com qualquer país", enfatiza José Augusto de Castro, presidente executivo da AEB.
"Passamos aos olhos do mundo a ser ainda mais confiáveis, já que a União Europeia não fará acordo que possa trazer prejuízos aos seus membros", completa.
Como um efeito indireto, Castro ainda acredita que a oficialização do acordo entre os dois blocos econômicos poderá contribuir para acelerar a aprovação da regulamentação da Reforma Tributária no Congresso Nacional, pois será necessário aumentar a competitividade do produto brasileiro para inseri-lo no mercado europeu.
"A competitividade é fundamental para permitir que o Brasil tire proveito do acordo. Temos que reduzir o custo Brasil para maximizar os resultados", destaca o executivo.